sexta-feira, 12 de junho de 2009

Para não dizerem que não escrevo nada...

A pedido de várias famílias foi-me dito que há muito tempo que não actualizo a minha "espera pelo futuro", portanto decidi tirar este bocadinho e publicar aquilo que já deveria ter sido publicado na VisãoContacto mas que por uma ou outra razão ainda não o fizeram...

Dizem as directivas que os artigos por nós escritos para a AICEP devem de ser isentos e concentrarem-se nas oportunidades do mercado em que estamos, e blábláblá...


Mas sobre isso toda a gente escreve. Portanto, eu decidi escrever sobre a forma como eu vejo o Panamá, e saiu isto...abri com o seguinte título:

"O Istmo de cabo-a-rabo"

Queridos amigos, caros colegas, estimados conhecidos, pessoas em comum,

Ir do Atlântico ao Pacífico significa para a maioria de nós ir de um lado ao outro do Mundo. Pois bem, tenho a dizer que a AICEP fez-me descobrir que para aproximadamente 3 milhões de pessoas, fazer tal coisa significa pegar no carro e conduzir ao longo de pouco mais de 80km de estrada.

Isto pode não parecer grande coisa, mas se repararmos bem, vamos ver que nesta terra entre as duas Américas e dois Oceanos estão concentradas heranças e influências de todos os cantos do globo.

A esta coexistência pacífica de raças, costumes e culturas, eu resolvi chamar de "Panameño way of life". Suponho que se estejam a interrogar porque razão é que decidi misturar dois idiomas numa expressão tão curta. A razão é simples.
O modo de vida desta gente lutadora e “de coração na boca” é baseado na diversificidade da sua cultura. Se por um lado herdaram do colonialismo espanhol a língua, a alegria, a hospitalidade e a sua espiritualidade; por outro lado, herdaram das décadas de domínio económico norte-americano o capitalismo, a comida, os carros, as casas, etc. Em poucas palavras: de Espanha veio a parte intangível do seu estilo de vida, e dos Estados Unidos da América ficou a parte mundana do dia-a-dia. Assim, não é de estranhar que a meio de uma conversa apareça uma ou outra palavra da língua de Sua Majestade, como o propósito de sinónimo para um termo que seria demasiado corriqueiro na língua de Cervantes.

Aqui, o choque de estarmos num país diferente começa no momento em que se abre a porta do avião: o calor. Nos primeiros dias desesperante e asfixiante, nos restantes banal e de importância relativa...tornando 30ºC de temperatura ambiente um elemnto comum do quotidiano.

Num país onde o relevo dificulta a comunicação terrestre e o excesso de precipitação a torna ainda mais difícil, é normal que se possa encontrar lugares tão remotos cuja existência no nosso intelecto se devia, somente, ao cenário de uma produção cinematográfica baseada na história de um qualquer protagonista de aventuras.

Por outro lado, se da cidade a imagem que fica na nossa mente é a de um skyline que desafia a engenharia civil, onde as torres de betão e vidro parecem disputar entre si o título de “a mais alta”; do norte fica a imagem de um verde vivo e de montanhas que se perpetuam no tempo. Já o sul, emana vento húmido da floresta tropical e a letargia derivada da possibilidade de poder passar o dia numa pequena ilha rodeada de um azul que começa por ser celeste, mas que o horizonte vai convertendo em sarifa.

E as gentes deste lugar? Bem, essas vêm de todo o lado..da China vieram aqueles que carregados de um empreendedorismo singular acabaram por dominar o pequeno comércio de rua. Do Caribe chegam diariamente os que possuindo somente a força dos braços lutam de de sol-a-sol por uma vida melhor. Com o mesmo objectivo há aqueles que deixaram para trás o hemisfério sul. Do norte, mais a norte que o México, chegam os que já contribuíram para o desenvolvimento do seu país e procuram o murmúrio de um mar de olhar quase langue ao entardecer. Outros ainda recém-chegados da Europa e da Ásia são transportados por táxis e por detrás dos seus vidros fumados observam atentamente as oportunidades de negócio, como quem contempla uma jóia em bruto, por laminar. Finalmente, há ainda, aqueles que apesar da diferente fisiologia têm em comum o facto de terem como Pátria a República do Panamá.

Deste modo, o Panamá parecce-me, a mim, um país marcado pela diferença que sem ter a necessidade de estar tipificado corre constantemente atrás de uma identidade própria. No entanto, quando chegamos ao final voltamos ao ínicio pois essa identidade derivará de uma amalgama de pessoas, raças, costumes, crenças, culturas e hábitos.

É por todo isto e muito mais que eu recomendo vivamente virem até ao Panamá.
Eu vim. E gostei."

Obrigado por tudo